quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Vai ficar tudo bem


Dizem que só damos valor quando perdemos, mas eu acho injusto generalizar, eu mesma sei o exato valor de quem está na minha vida, sei o quanto iria doer perder estes que levo dentro do peito. Cada vez que revivo lembranças boas este valor aumenta, duplica, triplica, não sei colocar e números e estimativas, mas sei que é muito.
De todos que carrego, minha família é o que mais ocupa espaço e hoje ao saber que meu pai estava entrando em cirurgia eu perdi um pouco o ar, o chão, a fala.
Fiquei horas esperando notícias e tudo que eu conseguia pensar eram as coisas que tínhamos feito ao longo dos meus 20 anos e como era gostoso relembrar cada besteirinha.
Lembro de quando ganhei meu primeiro patins, foram tantos tombos, tanto merthiolate no joelho e sempre aquele afago na cabeça e logo em seguida ouvia: “vai lá, tenta de novo”
Quando saiamos para almoçar fora em família e eu podia escolher onde iríamos comer, era uma indecisão de meia hora, mas no final acabávamos no Mc Donalds com direito a sobremesa. Lembro de quando eu arrumei o primeiro namoradinho e a cara de horror do meu pai, ele falava que eu não estava em casa e fingia que não ouvia o telefone tocar.
As viagens para a casa da minha avó, sempre ouvindo músicas super antigas e eu tinha dó de quem atrapalhasse ou fizesse barulho, mas até hoje eu escuto as mesmas músicas quando quero ficar calma, aquela sensação de paz ainda não achei igual.
Quando fomos para a Bahia e caminhávamos na praia, brincando de catar conchinhas para fazer um quadro gigante de fotos, eu nem queria as conchas só queria caminhar sentindo a brisa do mar, conversando com meu pai.
Foi ele que me ensinou a andar de bicicleta, com toda a paciência do mundo empurrava minha bicicleta roxa por toda a pracinha e dizia que eu não precisava preocupar, ele estava ali para não me deixar cair. Quando percebi ele tinha soltado o banquinho e eu pedalava sozinha, só que o melhor do dia foi quando guardamos a bicicleta no carro e ele disse com um sorriso gigante que estava orgulhoso.
E é disso que eu me lembro quando penso no meu pai, esse apoio, esse amor, esse orgulho todo.

Ainda tenho aquela mesma visão de criança, vejo meu pai como o ser mais forte desse planeta, capaz de derrotar todos os monstros do escuro, machucados e dores de cotovelo. Pra quem já derrotou tudo isso, vai ser fácil sair dessa, eu sei que vai.